Espalhar-se ao comprido
Não posso cair hoje. Choveu e a calçada está molhada, escorregadia e perigosa. Sou uma quinquagénaria, afinal - sabe-se lá que mazelas podem vir de uma queda mal dada. Irresponsável, escolho muitas vezes os caminhos que por ela faço. Porque esta lição, a bem da verdade, não sei se quero aprender. Os passeios assim, são tão melhores que os que existem a cimento, planos, aderentes, sem buracos e sem riscos. Apesar das maleitas, dos arrependimentos temporários, dos gessos e das dores, que sempre passam, dizem. Quase tudo passa sempre um bocado. Sigo como uma turista na minha cidade, já o fazia antes dos cafés da modinha, dos visa gold, do surf, dos preços acima das minhas possibilidades. E, também como uma turista passeio-me na minha vida: vejo as vistas, pago para viver extravagancias, sou grata pelo sol. Como se tivesse uma bilhete de partida no terminal 2, como se fosse só desta vez, como se tivesse dinheiro para isso, como se ninguém me conhecesse aqui. Como se não me...